Quando conceitua-se a educação integral como a “educação o mais
completa possível” precisamos lembrar de todos os aspectos que integram uma
pessoa, físico ou, biológico, cognitivo, psicológico, social ou cultural.
Ao construir o currículo da educação integral todos esses aspectos
devem ser contemplados e discutidos com igual importância. Como não temos um currículo
fechado, podemos decidir coletivamente quais temas deverão contemplar cada fase
de desenvolvimento, dentre as áreas de conhecimento, com as quais trabalhamos.
Na escola em que trabalho discutimos nos encontros de planejamento
e formação dos professores temas que devem dirigir o planejamento anual.
Trabalhamos com projetos de trabalho, onde o tema escolhido foi Ética e
Cidadania, tendo em vista a necessidade de trabalhar com os estudantes a
identidade do grupo, direitos e deveres, o respeito ao grupo de convívio, ao
espaço escolar, diversidade étnica e cultural, o reconhecimento do espaço
vivido (bairro, município, estado, país), quem nos representa nestes espaços,
como reivindicar nossos direitos, enfim, buscamos selecionar temas que fazem
com que o estudante se perceba parte da sociedade, iniciando pelo espaço
escolar e depois trabalhando o que está ao nosso redor. Buscamos trabalhar com
as crianças e adolescentes a importância de manifestarem seus pensamentos, dúvidas,
desejos, etc.
Sentimos a dificuldade de trabalhar em parceria com as famílias,
pois os pais ou responsáveis dos estudantes não costumam participar dos
encontros de reuniões e escola de pais. A vida corrida dos pais em função do
trabalho, ou a desvalorização do trabalho escolar tem prejudicado esta
parceria.
Com a permanência da criança e adolescente durante nove horas diárias
na escola, podemos trabalhar vários aspectos do seu dia, como por exemplo, a
alimentação: o que devemos comer, em que quantidade, como se servir e se portar
num ambiente coletivo, hábitos de higiene, saúde, entre outros temas. Nos
horários de lazer, livre, no pátio, aproveitamos para ver e trabalhar questões
de relacionamento, brincadeiras e jogos coletivos, assim como, para conversar
com as crianças e adolescentes sobre temas livres, seu dia a dia; nestes
momentos conseguimos nos aproximar dos alunos com o objetivo de conhecê-los
melhor.
Outra dificuldade encontrada diz respeito a parceria com a área da
saúde e a responsabilidade dos pais em procurar atendimento às crianças e aos adolescentes em
suas necessidades físicas e psicológicas. Muitas crianças apresentam problemas
de saúde e não são atendidas, desde problemas de baixa imunidade, de visão,
audição, fonoaudiológica e psicológica. Hoje as crianças que apresentam deficiência
comprovada recebem um professor a mais na sala, são atendidas em sala de
recursos, de apoio pedagógico, e fazem acompanhamento com especialistas
diversos de acordo com suas necessidades. Porém as crianças que apresentam
dificuldades de aprendizagem ainda não são atendidas. Estes ficam passando por situações
delicadas em sala, que diminuem sua auto-estima, que os inferiorizam por não
conseguir atender as expectativas de pais e professores. Ao se buscar recursos
para melhor trabalhar com estas crianças ainda encontramos o problema da
burocracia de encaminhamento para um atendimento especializado, no caso, com
médicos ou psicopedagogos, fonoaudiólogos.
A escola sente-se responsável pela aprendizagem de todas as
crianças e adolescentes, porém, não podemos nos responsabilizar por tudo; o
estado e a família também tem que fazer a sua parte, como a própria
Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente afirmam.
Preocupamo-nos com a situação da Educação Integral quando se diz
respeito a permanência da criança por tantas horas na escola. A escola está
assumindo a parte da alimentação da criança, dos hábitos de higiene, de
relacionamento, de convívio social, de troca de conhecimentos, enfim com a
aprendizagem como um todo. Agora já ouvimos discussões do tipo: necessidade das
crianças tomar banho, ir ao médico, ao dentista, tomar remédios, fazer
tratamentos de saúde... Será que os professores acabarão tendo que se responsabilizar
por esses atendimentos também? Isso também vai fazer parte do currículo escolar? Hoje a escola está assumindo a parte da família de educar as crianças,
dos limites, direitos e deveres. Muitas famílias delegam a escola a trabalhar o
respeito, a afetividade, que seriam base da educação de todas as crianças. O
que mais nos espera?
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